sábado, 19 de maio de 2012

ÁRBITROS DE FUTEBOL: FALTA POUCO PARA TER PROFISSÃO REGULARIZADA

Frederico Haikal
Apito
Ricardo Marques, árbitro mineiro, espera regularização da profissão ser concretizada para
poder se dedicar somente ao apito
     A estrutura é amadora. A remuneração, nas competições mais importantes, como as Séries A e B do Brasileiro, por exemplo, é de um profissional qualificado. É diante desse quadro que acontece em Brasília o processo de regulamentação da atividade de árbitro de futebol.

     Na noite da última quarta-feira foi considerada como uma conquista pelos donos do apito a aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que regulamenta a profissão.

     Considerado o principal árbitro mineiro na atualidade, Ricardo Marques Ribeiro, que integra o quadro da Fifa, acredita que o projeto é um grande passo para a regulamentação da profissão. “Vejo como uma conquista importante, porque a arbitragem é uma profissão como as outras”, destacou.

     Assessor judiciário quando não está em campo, Ricardo Marques Ribeiro segue sua rotina acompanhando os processos administrativos e judiciais, preparando recursos e impetrando mandados no Tribunal de Justiça, onde ele trabalha, de segunda à sexta, entre 8h e 18h.

     Conciliar o tempo do trabalho e a preparação para os jogos é considerado por ele um grande desafio. “Eu me desdobro para cumprir minha carga horária. Tenho que acordar às 5h todos os dias para treinar. Às vezes tenho que ir à noite. Geralmente vou à academia segundas, quartas e sextas, e nas terças e quintas faço corrida na academia da polícia”, conta.

     Na avaliação do árbitro mineiro, a principal maneira de diminuir os erros dentro de campo seria com a regulamentação. Dessa forma, segundo ele, o árbitro poderá se dedicar integralmente às partidas.

     “Sem dúvida nenhuma (a não regulamentação) atrapalha. Nossa vontade era ter a mesma dedicação que os jogadores têm nos clubes, com nutricionista, preparador físico. Com certeza, se isso acontecer, nosso rendimento será maior e os erros consequentemente menores”, opinou.

     Eleito quatro vezes o melhor árbitro do Brasileirão e hoje comentarista de TV, Leonardo Gaciba também acredita que os erros vão diminuir caso seja aprovada a profissão de árbitro. “Essa medida é necessária. E tem que sair do papel logo. No futebol não existe mais espaço para amadorismo. No campo, só existem dois cargos que não são profissionais: o árbitro e o gandula. Então é preciso regulamentar. Quando fiz o curso de árbitro, em 1993, essa conversa já existia”, argumentou Gaciba.

     Porém, o ex-árbitro, que integrava o quadro da Fifa, avalia que a profissionalização pode trazer problemas no futuro. Isso porque um árbitro que integra o quadro da Fifa recebe R$ 3.300 por duelo apitado na Série A, enquanto os demais abocanham, no máximo, R$ 2.200.  Como um árbitro do quadro da CBF apita em média quatro jogos por mês, ele recebe cerca de R$ 9 mil.

     “Ao mesmo tempo, essa profissionalização pode ser um tiro no pé. Quem vai arcar com os custos? As Federações, a CBF ou a Fifa? Isso tem de ser discutido. A partir do momento que profissionaliza, os custos certamente vão aumentar. Com isso, as taxas vão abaixar e os árbitros vão ganhar menos. Eu tenho medo que isso aconteça”, ponderou.

     Um dos defensores do projeto, Marcio Resende de Freitas considera que ainda não se deve discutir a questão salarial. “Agora não é o momento de discutir quanto um árbitro vai receber como profissional. A hora disso ainda vai chegar. Assim que estiver tudo certo, será criada uma comissão para analisar todos estes detalhes. Mas o que não pode acontecer é uma conquista se transformar em uma punição para o árbitro”, destacou.

     “Este é um trabalho de mais de dez anos, e uma vitória para os árbitros. Não é possível que, em um ambiente tão profissional como o que o futebol se transformou nos últimos anos, a arbitragem continue sendo amadora”, concluiu.

Fonte: Hoje em Dia

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